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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Jesus ouve sua Mãe
Quando o Magistério da Igreja fala da importância da intercessão de Maria na história da humanidade, me vem à lembrança a passagem do milagre das Bodas de Caná.
Não que Maria não tenha exercido a sua mediação em outras passagens da Bíblia. Quando ela vai ao encontro de sua parenta Isabel, p. ex., essa fica cheia do Espírito Santo (cf. Lc 1, 41). No entanto, a passagem da qual falamos, narrada detalhadamente no evangelho de São João (cf. Jo 2, 1-12), é tão clara, que o evangelista, antes mesmo de iniciar a narrar o que havia acontecido, observa que “achava-se ali a mãe de Jesus” (Jo 2, 1).
Afinal, por que falar de Maria? Quando os católicos falam aos protestantes da importância de Nossa Senhora no Evangelho, eles simplesmente ignoram, ora chamando-nos de idólatras, ora dizendo que “só Jesus é mediador entre Deus e os homens” e, portanto, Maria não pode de modo algum ser intercessora.
A Sagrada Escritura, no entanto, fala por si só. O vinho acabou. Ora essa, Jesus, sendo Deus, sabia. Ele, sendo onisciente, sabia que faltava a bebida. Quis, porém, que se manifestasse o ato de amor de Sua Mãe para com os homens, para que nós, a exemplo daqueles homens, pudéssemos também invocar sua intercessão.
“Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou” (Jo 2, 4). Não faltam protestantes para deturparem as Escrituras e dizerem que essa passagem prova que “Maria não foi muito feliz quando tentou assumir o papel de intercessora dos homens”. O Papa João Paulo II responde, baseando-se simplesmente nos fatos do Evangelho: “Muito embora a resposta de Jesus à sua Mãe tenha as aparências de uma recusa (sobretudo se, mais do que na interrogação, se reparar naquela afirmação firme: “Ainda não chegou a minha hora”), mesmo assim Maria dirige-se aos que serviam e diz-lhes: “Fazei aquilo que ele vos disser” (Jo 2, 5).” (Redemptoris Mater, n. 21) Ora, o que significa a “insistência” de Maria? Será que ela realmente falhou ao assumir o papel de intercessora dos homens?
É preciso muita falta de bom senso para se afirmar uma loucura dessas. A água foi realmente transformada em vinho. O poder que atuou no milagre foi o de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas sem a atuação de Maria, que se pôs entre os homens da festa e Jesus, simplesmente não haveria milagre. É, pois, sapientíssima a afirmação dos Santos Padres sobre a ação de Maria: toda graça nos é dada por suas mãos. Pois assim como o Filho do Homem se encarnou no seu seio e por ela redimiu a humanidade, assim também é por ela que recebemos os tesouros espirituais que nos manda Nosso Senhor. Podemos dizer ainda mais. Maria é onipotente, verdadeiramente onipotente, pois tudo aquilo que pede a Seu Filho, consegue. Em outras palavras, Nossa Senhora é a onipotência suplicante que, agindo em favor da humanidade pecadora, é a esperança dos cristãos.
É isso o que diz Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja: “Sois onipotente, ó Maria, visto que vosso Filho quer vos honrar, fazendo sem demora tudo quanto vós quereis.” Muito embora não houvesse chegado sua hora, o milagre aconteceu. Apesar de achar o momento talvez inapropriado, Nosso Senhor atende a súplica de Sua Mãe.
Semelhante é a Sua atitude em favor da humanidade. Por que tantos obséquios a Maria? Por que tanta devoção à Virgem Mãe de Deus? Assim como fez nas bodas de Caná, ela recebe os pedidos de todos nós, pecadores, e os oferece a Nosso Senhor. E apesar de ver os nossos pecados e observar a nossa difícil situação, apesar de achar que “a hora ainda não é aquela”, Jesus ouve sua Mãe.
Se ela é intercessora, então, como afirmar que “há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo” (1 Tm 2, 5)? Ora, como explicar que, apesar de haver um só mediador entre Deus e os homens, haja ao mesmo tempo tantas pessoas orando umas pelas outras na terra? Não pede São Paulo que “se façam preces, orações, súplicas, ações de graças por todos os homens” (1 Tm 2, 1)? As Escrituras excluem mediações concorrentes com a mediação de Nosso Senhor, mas não eliminam a possibilidade de mediações subordinadas, como a de Maria, por exemplo. E por quê? Simplesmente porque essas mediações não fazem com que diminua o nosso amor pelo Redentor; muito pelo contrário: a finalidade de todas as devoções – a Nossa Senhora, a São José e aos demais santos – é fazer crescer sempre mais a nossa fé em Jesus e o nosso amor por Ele.
A misericórdia de Maria, que rezamos na oração da Salve Rainha – “esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei” -, não compete com a misericórdia de Jesus, mas a complementa. A devoção a Nossa Senhora não “substitui” ou “ofusca” nosso amor a Jesus Cristo. Torna, ao contrário, mais perfeito o nosso amor por Ele. Essa idéia de desprezar a Mãe para se valorizar o Filho não faz nenhum sentido. Nosso Senhor, sendo filho de Nossa Senhora, lhe era obediente (cf. Lc 2, 51). Maria, a “cheia de graça”, o Tabernáculo vivo do Altíssimo, nunca se oporia a um só mandamento da lei de Deus.
Que a Virgem Santíssima conduza os cristãos à obediência e à fidelidade a Nosso Senhor Jesus Cristo. Reunidos todos sob os ensinamentos do Pastor, invoquemos a sublime intercessão dessa Mãe de Misericórdia.
Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!
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